Black Kiss – Você nunca estará preparado para essa HQ

Black Kiss sempre me chamou muito a atenção pela capa. Sempre que via nas prateleiras das bancas via capa simplesmente linda, com uma mulher com um espartilho e vendas nos olhos de renda, desenhada em preto e branco e somente com a boca impressa em tinta vermelha. Achava muito chique, muito editorial de moda. Mas é incrível como eu me deixo levar pela a capa dos livros.

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Eu confesso que, apesar de alguém ter sussurrado que essa HQ era muito controversa e com reviravoltas inimagináveis, eu não estava esperando uma coisa assim tão… politicamente incorreta. Querida, tirem as crianças da sala porque essa HQ é REALMENTE chocante. Com vocês, Black Kiss, com roteiro e ilustrações de Howard Chaykin.

A única coisa que li do Howard Chaykin foi Batman – Pulp Fiction, não conhecia nada muito além disso antes de fazer as minhas habituais pesquisas pra resenhar algo assim, tão bombástico. Além das duas obras já citadas, o autor também fez diversos trabalhos para outros personagens da DC, Marvel e algumas obras autorais como American Flagg!, Creepy,The Scorpion, Star*Reach, entre outras.

Claro que já deu pra perceber que bonzinho esse roteirista nunca foi por matar as pessoas que nós desejamos que vivam pra sempre, mas Black Kiss é um disparate. A polêmica série foi lançada em 1988 (tem a minha idade!) em 12 volumes pela editora Vortex. Não é a primeira vez que ela sai no Brasil, já que foi publicada por aqui pela editora Casseta e Planeta, mas dessa vez a Devir fez um volume único com a versão remasterizada das páginas desenhadas por Chaykin. Em outros países ela chegou a ser proíbida. Não é difícil entender o porquê.

Tudo gira em torno do músico de Jazz Cass Pollack, recém saído de uma clinica de rehab, que é acusado injustamente de assassinato, e de duas prostitutas bem exêntricas: as amantes Dagmar Laine e Beverly Grove. As duas são praticamente iguais na aparência, mas Beverly é uma estrela decadente do cinema dos anos 50 e Dagmar uma transsexual que quer ser igual a sua musa do cinema. Juntos, os três se ajudam a encobertar crimes, mas a coisa desce a ladeira abaixo quando vemos assassinatos, injustiças, cultos satânicos e tudo de mais politicamente incorreto possível.

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Chaykin deveria estar em um mal dia quando resolveu escrever essa HQ. Não no aspecto da obra em si, mas ele deveria estar num mau humor sem precedentes. Black Kiss me cheira o tempo todo a desafio, provocação, ofensa de alguém que estava frustrado e oprimido com alguma coisa. E isso nem de longe é uma coisa ruim. Levando em consideração o cenário em que tudo se passou, eu só consigo definir o ambiente em que nos encontramos lá de uma forma: decadência.

Todos os ícones de coisas saudáveis são destruídas, se possível: todas as famílias passam por alguma espécie de massacre, e a pureza certamente é rasgada ao meio sem dó com experiências traumáticas e traições. A figura feminina é sulbjulgada o tempo todo e até mesmo a figura masculina é colocada em xeque com mentiras da trama. Policiais são estirpados ao meio, mas não sem antes cometerem suas barbaries sem limites, destruindo imagem de protetores da sociedade. O herói da história é viciado, tem um caso dentro da família e é um perdido sem valor nenhum.

Tecnicamente falando o roteiro fica um pouco confuso por causa das “gemêas” e a distinção complicada entre ambas, principalmente por causa do estilo de ilustração suja. Claro que o preto e branco desenhado displicentemente é muito adequado pra HQ e nem de perto é feito sem propósito nenhum. Mas é tudo muito confuso, de certa forma. É muita informação agressiva ao mesmo tempo…

O que eu posso dizer sobre Black Kiss é que é muito difícil de engolir uma obra tão escatológica. É possível se divertir com todos os absurdos que o enredo propõe pra você, mas é importante que você não tenha nenhum preconceito. Aconselho um aquecimento pra quebrar as barreiras da sua mente dando uma lida em Preacher ou em qualquer coisa do Garth Ennis, esse maravilhoso, por exemplo. Só digo uma coisa: Black Kiss não foi feito para senhoras inglesas lerem sem vomitar de raiva.


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