Hemorragia Auditiva – um fim de semana de shows inesquecíveis – Parte I
Ainda não me recuperei de ter vivido algumas das melhores experiências musicais da minha vida durante os dias 25, 26 e 27 de Setembro. Já faz quase duas semanas e eu ainda estou tentando seguir em frente. Hoje, o Hemorragia Auditiva é especial sobre o Live Music Rocks, que trouxe para São Paulo alguns dos side shows do Rock in Rio que aconteceram no fim do mês passado e ofereceram momentos épicos com emoções que variaram do ódio encharcado ao completo êxtase. Confira na primeira parte como tudo aconteceu.
Sonhar acordado: pode acontecer
Eu sempre acreditei que música é uma das coisas mais poderosas que a humanidade já teve capacidade de criar e não é difícil confirmar isso indo a shows grandiosos como os que acontecem em festivais. Eu já imaginava que ia passar uma raiva daquelas, já que moro em São Paulo e não tinha a menor condição de ir até a Cidade do Rock este ano. Mas, pra minha felicidade e de muitos outros, várias bandas vieram pra cá dar o ar da graça. E, entre elas, algumas das preferidas da minha vida: Faith No More, Deftones, Mastodon e Slipknot. As quatro bandas figuram o meu top 10 bandas da minha vida e eu definitivamente não poderia deixar a chance passar em branco.
Sempre que vou ver essas bandas ao vivo, parece que as minhas certezas transcendem a minha própria razão e levam a coisa a outro nível. Não sei se por não ter curtido muito os shows das bandas que gosto quando eu era mais nova – o Deftones veio quatro vezes pro Brasil e eu não fui em nenhum show – hoje, esse tipo de evento tem um significado especial. São lembranças que eu dou muito valor e vou levar pro resto da vida.
Não posso passar por esse episódio sem exorcizar em palavras tudo o que eu senti durante as horas que eu estive cara a cara com artistas que mudaram a minha vida. Não é todo mundo que tem essa sorte e, apesar dos entreveros climatológicos, deu quase tudo certo. Algumas passagens me arrepiam só de lembrar. Estou escrevendo esse texto duas semanas depois do show do Faith No More e ainda não me recuperei de tudo o que aconteceu. Eu só quero desejar a todo mundo que está me lendo que vocês possam ter um dia a oportunidade de viver coisas parecidas.
24/09 – Faith No More – Espaço das Américas – A melhor sessão espírita que já fizeram na história
Faith No More é minha banda preferida desde que vi o vídeo no Youtube de We Care a Lot no Rock in Rio de 92 em um longínquo ano de 2007. Não tinha esperanças de ver a banda na ativa de novo na época e, na última quinta-feira, foi o meu segundo show dos caras. Parece que a vida dá voltas, não é mesmo, queridinhos?
No primeiro show que vi – no SWU, em 2011 -, a banda já tinha vindo com a temática umbandista, toda de branco e com flores no palco. Então, pra mim, não era exatamente uma novidade, mas continua sendo uma coisa de impacto por destoar de todo o resto da cena do rock. Em Paulínia, em plena madrugada e depois de uma chuva de 14 horas nas costas, a banda conseguiu incendiar a plateia sem grandes dificuldades. Imaginem o tamanho da fodelança da presença de palco dos caras, já que se tratava de um festival em que nem todo mundo foi lá para vê-los. Agora, pensem vocês no Espaço das Américas em São Paulo, sold-out e abarrotado de fãs só da banda.
O grupo, que está em uma fase mais tranquila por motivos de idade avançada, fez um show enxuto mas MUITO poderoso. Não só pelo setlist escolhido, que foi uma coisa enlouquecedora para os fãs mais retardados como eu, mas pela paixão dos caras em estar ali, mesmo cansadíssimos da turnê. Eles tocaram músicas muito fortes, como Everything is Ruined, Chinese Arithmetic, From Out Of Nowhere, a já tradicional Caffeine – que rendeu um dos melhores fails da carreira do Mike Patton no Rock in Rio, ilustrado inclusive na imagem principal do post. Mas a grande surpresa mesmo foi a maravilhosa The Crab Song (vídeo acima), música tocada raramente pela banda. Desde que eles voltaram, em 2009, essa foi a terceira vez que o Faith no More incluiu a música no setlist. Simplesmente histórico e me fez chorar, pois é uma das minhas músicas preferidas dessa banda e eu nunca achei que a veria ao vivo.
Saí simplesmente ensopada de suor, já que, além de ter me esbaldado durante o show, o Espaço das Américas estava literalmente um caldeirão. Apesar desse problema, a estrutura do lugar em geral é incrível e o som estava bem bacana.
O show de 2015 contou com a abertura da banda chilena Como Asesinar a Felipes?, que eu não vou nem entrar em detalhes, pois peguei só o finalzinho e não curti muito.
25/09 – Deftones – Arena Anhembi – Arrepiando cada pelo do corpo com sucesso
Deftones é minha segunda banda preferida e, depois de passar por vários shows da banda sem conseguir ir, finalmente tive o privilégio de assistir esses bruxos ao vivo. Sim, são bruxos. Pra fazer uma música nesse nível de sensibilidade misturando a típica agressividade dos anos 90/00 da Califórnia, é só fazendo bruxaria.
Com um setlist enxutinho e o som dando várias mancadas, a banda conseguiu arrancar emoções variadas de quem estava lá para assisti-los. Desde uma euforia inexplicável, até mesmo os pelos arrepiados na nuca, não deu pra voltar pra casa sem passar pelos flashbacks das maravilhosas baladas carregadas de tensão sexual, como Sextape, Tempest, Passenger, Knife Party. Mas isso não quer dizer que o repertório se trata apenas de romance. Alguns dos grandes clássicos da banda fizeram os fãs irem ao delírio: Around The Fur, My Own Summer e especialmente o encore violento, batizado com uma chuva impiedosa, em que tocaram Headup e Engine nº 9.
O show abriu os trabalhos para o System Of A Down e acabou colidindo com o estilo da banda. Os fãs dos armênios realmente não eram os maiores adeptos da proposta da banda de Chino Moreno e acabaram sendo muito mal educados com vários espectadores que estavam ali pra assistir a banda. Os relatos de intolerância no Facebook me deixaram impressionada já que eu curti o show numa boa mesmo sendo empolgadíssima e perdendo os limites do ridículo.