Deafheaven em São Paulo: o eclipse em forma de música
A banda Deafheaven chega pela primeira vez em São Paulo quebrando os paradigmas de seletos grupos de fãs de música.
Os americanos sempre geram um burburinho intenso no underground. Como explicar uma banda que é de Black Metal mas usa roupa hipster e cortes de cabelo socialmente aceitos? Ou então como entender os vocais típicos de bandas extremas no meio de melodias atmosféricas do post rock?
Pois a proposta que o time formado por George Clarke (vocais), Kerry McCoy (guitarra), Daniel Tracy (bateria), Stephen Clark (baixo) e Shiv Mehra (guitarra) sempre esteve no meio do olho do furacão. Me lembro de ouvir constantemente o nome dessa banda em discussões acaloradas em grupos sobre metal. O choque entre os conservadores, que defendem o purismo do estilo, contra uma parcela de pessoas que são favoráveis a novas dimensões e possibilidades no estilo – eu estou neste grupo – é paticamente inevitável.
Apesar disso, o Deafheaven nunca havia me chamado muito a atenção até o lançamento de seu mais recente disco, o New Bermuda (2015). Mesmo com o aclamado Sunbather (2014) sendo o querido dos fãs da banda, ainda não tinha rolado aquela faísca que todo o fã de música anseia quando escuta um disco. Eu acho o New Bermuda muito mais coeso, harmonioso e alinhado com o que eu busco em uma banda hoje em dia.
Quando o show foi anunciado no Brasil eu sabia que não podia perder a oportunidade de conferir os caras. O Deafheaven é cada vez mais cultuado e minha intuição diz que eu tive uma chance de ouro. Acho que vai ser um show desses de se vangloriar de ter assistido daqui a alguns anos. Mas isso só o tempo pode confirmar.
O show, que aconteceu na Clash Club – local em que, por coincidencia fui em outro show esse ano, o do The Dillinger Escape Plan – desta vez estava abarrotado de pessoas.
A atmosfera das bandas de abertura
As duas bandas de abertura são nacionais e tem um clima mais tranquilo do que o headliner Deafheaven. Achei incrível ter a chance de ouvir bandas de post rock aqui no Brasil em ação, acho que foi a primeira vez <3.
Nvblado
Cheguei na metade do show do Nvblado e definitivamente é uma banda que precisa de amadurecimento. Apesar disso, eles estão repletos de ideias novas misturam conceitos interessantes na sua identidade. O visual dos meninos não é capaz de mostrar o sentimento desesperador das letras e do vocalista e isso é incrível. Vale também ressaltar que uma galera que apoia a banda foi acompanhar o show e eles já tem uma pequena fanbase formada. Vale acompanhar o trabalho delees e prestar atenção no crescimento dessa banda.
E a terra nunca me pareceu tão distante
Já E a terra nunca me pareceu tão distante, como disse meu namorado, é a típica trilha sonora do fim do mundo que as bandas do estilo oferecem. Apesar de não ser tão fã dos elementos eletrônicos nas músicas, eu achei que os meninos da banda executam o som com muita competência e tem tudo pra ir longe.
O momento do eclipse
Bom, então chegamos ao momento mais esperado do dia, que é quando o Deafheaven entra no palco. Apesar de um pequeno atraso, a banda chega sem frescura ao palco e começa o espetáculo. O som da casa estava simplesmente ensurdecedor – eu esqueci o meu protetor auricular – mas, de certa forma, isso fez parte do contexto do show e do que é a banda em si.
O Deafheaven, que conta com um verdadeiro maestro chamado George Clarke, conseguiu conduzir a platéia esquisita na palma da sua mão. Ele tem uma presença de palco muito peculiar e contrastante com a calma e equilíbrio do resto dos músicos da banda. Trazendo o setlist já esperado e igualmente executado em outros países na tour da América Latina, eles iniciaram o show com esse samba do vídeo abaixo, a primeira música do New Bermuda, Brought to the Water:
Em seguida a catarse coletiva tomou conta da platéia esmagada por todo o local. O som da banda é maravilhoso ao vivo e tem muita paixão. Apesar de ser uma som meio desgracento, as músicas da banda me deixaram com uma sensação de satisfação imensa e muito feliz.
Divido entre bate cabeças e momentos de calmaria, eles conseguiram fazer com que seus fãs se sentissem arrepiados em diversos momentos. Pessoalmente posso eleger a incrível Baby Blue como meu momento preferido de todo o show.
Mas o grande momento de todo a apresentação da banda foi quando a loucura tomou conta da Clash na execução de duas músicas do Sunbather no final do setlist. As pessoas realmente adoram esse disco e o vocalista se jogou na platéia diversas vezes, não tem como o controle ser completamente perdido.
Apesar de tudo ter sido incrível, o setlist foi curtinho demais. Eu fiquei bem satisfeita pois gosto muito do Nem bermuda, mas a galera em geral ficou reclamando que queria mais da banda. Mas tudo bem, não tem como não querer mais do Deafheaven no palco.
Todas as fotos do show foram gentilmente cedidas pela incrível Edi Fortini. Confira o trabalho dela.
PS. Opa, essa resenha está um pouco atrasada mas antes tarde do que nunca, não é mesmo?