Memórias de Uma Gueixa – os problemas da ocidentalização.

Depois do Natal eu sempre leio muito. Adoro ganhar livros de presente. O livro Memórias de Uma Gueixa, escrito por Arthur Golden, estava no meio do combo que ganhei e terminei de ler ele na semana passada. Quanto ao filme, assisti faz bastante tempo, mas eu dei um jeito e vi de novo essa semana só pra fazer esse post.

Quando nós ocidentais costumamos falar sobre a cultura dos orientais (e isso inclui desde o Oriente Médio até o Japão), a tendência é sempre distorcer um pouco da verdade sobre aqueles povos. Com Memórias de uma Gueixa não seria diferente, e é nesse ponto que eu posso desenvolver minha opinião.

Memórias de Uma Gueixa

Memórias de Uma Gueixa conta a história da Sayuri, uma menina pobre que foi vendida por sua família para um Okiya em Gion. Okiya são as casas de gueixas, que geralmente ficam em distritos voltados somente para a atividade que elas exercem. Ao contrário do que eu imaginava, a história e a personagens não são reais. Desde que vi o filme achei que aquilo havia sido transcrito realmente das palavras de uma gueixa idosa que morava em Nova York, mas foi somente baseado na trajetoria e na sabedoria de uma das gueixas mais famosas do Japão, já aposentada, Mineko Iwasaki.

O livro é uma delícia de ler, ainda mais se você é mulher. O universo onde o escritor transita é simplesmente a realidade da literal natureza feminina na maioria dos casos: paixão, beleza, competição, vaidade e a busca pela própria independência e pelos próprios sonhos. (não vamos negar né meninas?). É uma Cinderela oriental, com direito a momentos de duvida, de desesperança, mas também de pura ascenção e glamour.

No filme não é diferente: apesar de algumas adaptações necessárias pra essa mídia, o contexto é mantido e não se perde nada das sensações. E devo dizer que é um filme maravilhooooso, com uma fotografia impecável, figurino mais impecável ainda. Não é a toa que levou 3 Oscars em 2006.

Porém, durante algumas pesquisas sobre o filme, descobri que Arthur Golden foi processado por distorcer e até criar hábitos na história que foram considerados ofensivos pelas gueixas, além de divulgar o nome de Mineko Iwasaki que lhe contou tudo, sendo que ela solicitou segredo. É nesse ponto em que eu queria chegar.

Eu não sei qté que ponto é válida a licensa poética. No caso de Memórias muitas coisas só ocorrem porque foram absolutamente modificadas da realidade, mas esse não é o maior problema. O problema é denegrir uma arte que já não era bem vista. Memórias sutilmente reforça a idéia de que uma gueixa não deixa de ser uma prostituta, o que está longe de ser verdade. Então fica a pergunta: quão justo é ferir uma cultura por causa de um filme? Cabe aqui o bom senso de cada um, além da vontade de conhecer a verdade. Foi isso que Mineko tentou fazer publicando seu próprio livro contando como o mundo das gueixas realmente funciona, clique aqui e veja o livro.


5 thoughts on “Memórias de Uma Gueixa – os problemas da ocidentalização.”

  • Ótimo questionamento! (quão justo é ferir uma cultura por causa de um filme?)

    É dificil tomar partido quanto a essa pergunta, pois como você mesma disse, sem algumas adaptações não teria como a história desenrolar de uma maneira que ficasse boa para um filme.

    O problema nesses casos é que muita gente leva um filme como uma retratação fiel do mundo real, e nunca é, nunca. Mesmo nos filmes que são baseados em histórias reais, nunca é exatamente como aconteceu na realidade.

    Porém as pessoas levam isso como a história real, o que as vezes vai de encontro com algumas crenças, culturas e coisas assim.

    Parabéns pelo post e pela escolha das fotos.

  • bom.. estou adorando seu Blog.. venho lendo ele todos os dias aqui no Studio e estou gostando demais da sua maneira de screver e narrativas, parabens.. sobre o Filme, na verdade sobre a opiniao de se modificar, distorcer a realidade sobre culturas e tudo mais me deixa extremamente triste pois vemos isso o tempo todo. Grande Abraço!

  • Livros, não se pode confiar em tudo que lê, ainda mais no meu gênero preferido(ficção), mas parece que algo atrai, como um polo negativo pra um positivo. Infelizmente, as vezes, a mentira é mais legal que a verdade(James Bond).Vc só tem que ter uma boa peneira no cérebro.

    Sabe, uma vez eu roubei um livro, e por muito tempo me auto-entitulei o menino que roubava livros, falando é até engraçado, pq eu me identifiquei como o protagonista, ele não é um ladrão propriamente dito, roubou, não que se orgulhe disso. Mas tbm nunca o pegaram.

    bom blog, bom gosto.

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