Kick Ass e o otimismo heróico no cinema.

Kick Ass é uma das coisas mais sensacionais que li nos últimos tempos e disso vocês todos sabem, afinal cansei de rasgar elogios em alguns posts aqui no blog. Mark Millar, com aquela cara de santo, faz miséria com o seu conceito de certo e errado na HQ. E claro, foi completamente uma vitória alguém fazer a adaptação pro cinema a história do menino que estava cansado de ser ninguém e resolveu por uma roupa de mergulho para virar super herói. Nós estamos numa época que os comic books vem cada vez mais agressivos pra impressionar o público específico, tão exigente e pensante, e Kick Ass se encaixa perfeitamente na hora de impressionar o seu leitor e conquistar fãs por ser tão genuíno e puro no que a história propõe.

Hora de comparar o filme com os quadrinhos.

E eu, como fã retardada de Kick Ass, cheguei ao cinema adiantada (raridade) e aos pulinhos de felicidade de poder ver a adaptação. Os trailers empolgavam demais, as fotos, o visual do filme. Alguma cenas eram tão fiéis ao roteiro original que a ansiedade foi a uma dimensão inexplicável. E é aí que começa a nossa jornada ladeira a baixo, amigo. Mas não tão pra baixo assim.

O filme do começo ao meio é simplesmente incrível e fiel o máximo possível. Claro, estamos falando de outro veículo, de outra mídia, então adaptações são necessárias pra que a coisa fique mais clara e dinâmica no cinema. Mas até aí, tudo lindo. Diálogos ressaltando os pontos mais importantes (apesar da legenda branca ser uma verdadeira merda e eu não conseguir ler tudo as vezes), elenco não tão parecido com os traços do John Romita Jr., mas que cumpriam bem o perfil psicológico.

O problema mesmo é a corrida ladeira abaixo no sentido real da história. Do meio do filme até o final, onde se concentram a maior parte das cenas de ação, o filme vira uma grande releitura violenta de diversos filmes da Sessão da Tarde. Não, não estou exagerando. Isso, aliás, não é uma crítica, muito pelo contrário, o filme é MUITO DIVERTIDO, e mesmo com todas as alterações originais as pontas são bem amarradas no final. Só senti falta da explicação da maleta de 3 milhões de dólares, que se trata do grande MINDFUCK da história original. Uma pena. Pensando bem, essa maleta e toda explicação dela foi ignorada pelo fato de que Big Daddy (Nicholas Cage) também teve sua história pessoal toda modificada, como se não fosse interessante. Eu acho que era a melhor de todas. Enfim. O filme continua legal mesmo assim.

Hit Girl

Preciso citar que Chloe Moretz como Hit Girl, como o mundo todo já sabia, simplesmente arregaça no papel e vira a protagonista da história que leva o nome do coadjuvante. Olho nessa menina que fez vários filmes já e promete ser uma das grandes atrizes da nova geração. Já o Nicholas Cage, que geralmente não me agrada em filmes de ação, conseguiu me deixar feliz como Big Daddy, e isso pra mim tá ótimo (no caso dele). O resto do elenco passa batido, sinceramente.

Mas num contexto geral eu senti que é um filme otimista demais, realmente feito pra você não sair do cinema achando que a vida é uma merda e que determinados comportamentos doentios não existem. Kick Ass é moralmente muito mais violento. Como eu havia dito no post anterior: as relações entre pais e filhos são muito problemáticas, e a gente não consegue enxergar nada disso no filme, aliás parece que tudo é muito bonito ali. E digo mais: Kick Ass ficou parecendo uma história engraçadinha com sangue, eu pelo menos consegui enxergar o roteiro original muito além disso, e aí realmente faltou o tempero pra que esse filme fosse algo muito além de um Blockbuster a ser esquecido nos próximos seis meses.

Kick Ass

Então, se você não leu a HQ vai achar Kick Ass simplesmente do caralho. Afinal, é um filme realmente sensacional, entretenimento puro que não insulta a sua inteligência e é uma massagem gratificante na mente dos mais sádicos. Mas se você leu a HQ vai sentir falta daquele tempero único que a real história tem. Essa, é só mesmo pra quem tiver vontade de ler.

É uma pena sair do cinema com um sentimento tão nhé 🙁


4 thoughts on “Kick Ass e o otimismo heróico no cinema.”

  • Ainda não li Kick-Ass, mas entendo perfeitamente o que você dizendo, pois foi a mesmíssima sensação que tive ao ver procurado. Outra HQ do Millar que enquanto filme é legal e quebra padrões, mas enquanto adaptação…

  • Estou louco para assitir!!! Pena que aqui em Passo Fundo, interior do Rio Grande do Sul, leia-se Onde O Diabo Perdeu as Botas, o filme demora a chegar… Texto muito bom! Ou ruim, já que aumentou minha vontade de ver… =P

  • Acho que vou gostar então de assistir hehe: "é uma massagem gratificante na mente dos mais sádicos." Tomara que não termine com o clichê final feliz LOL… agora quero ver se esse filme é tudo o que o marketing dele propôs =p

  • Você não leu Kick-Ass ainda, Alessio!? Vergonha na família, hein?

    Bem, eu, como não achei a HQ tão maravilhosa assim, e por achar abusivo o preço do cinema hoje em dia, baixei e assisti eras atrás. Tenho problemas com adaptações desde que vi O Senhor dos Anéis na pré-estréia e confesso que a única adaptação que julguei decente na minha vida foi Memórias Póstumas de Brás Cubas. E digo isso incluíndo os filmes de Kubrick e até Poderoso Chefão, onde o próprio Mario Puzzo estava envolvido como roteirista.

    Gostei do post, me lembrou um trabalho da pós comparando a HQ com a versão cinematográfica de Watchmen que fiz ano passado.

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