Ensaio sobre a Cegueira – o filme
Antes de qualqur coisa: que fique bem claro que nunca li o livro, então não tenho como comparar as duas obras.
Domingo a noite, eu e o Gu resolvemos assistir o Ensaio sobre a Cegueira, já que foi um dos filmes que tentamos ver no cinema e não conseguimos. Foi realmente mais fácil e mais confortável alugar, já que não estava na nossa lista de prioridades para ser visto nas telonas. Também não foi um filme que me prendeu tanto aos detalhes no pré-lançamento e durante a época das filmagens, então é muito agradável assistir um filme sem saber muito o que esperar, coisa que não acontecia já faz um tempo comigo. Como sempre tento me manter atualizada com os próximos lançamentos, poucas coisas tem me surpreendido, infelizmente por um lado, e felizmente por outro. Mas isso é um texto pro fim do ano, falando sobre as minhas impressões do cinema em 2010.
Ao começar a ver a película dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles, já veio a primeira surpresa que com toda certeza era uma informação óbvia pra todo mundo que sabe dos detalhes da produção do filme: todos os cenários externos são em São Paulo, e nada é mais reconfortante do que a sensação de estar em casa vendo o filme: saber o nome das ruas, que lugares aparecem, enfim. São Paulo é linda e junkie exatamente da forma que era necessário para ser feito o filme, e eu achei genial as belas paisagens abandonadas e as pessoas totalmente nuas no centrão da cidade. Lugares que me trazem lembranças tão boas 🙂
Ok, agora sobre a história o filme.
O argumento do filme em si é genial e acho que nem preciso me estender. José Saramago, que faleceu recentemente, já é um argumento suficientemente incrível. Quem leu já sabe como que funciona. Infelizmente não li Ensaio sobre a Cegueira ainda e pretendo remediar esta falha épica o quanto antes. Enfim.
No filme, tudo começa por causa de um rapaz japonês (Yûsuke Iseya) (que está dirigindo e subitamente perde a visão. Com o tempo, descobrem que se trata de uma cegueira branca e que é contagiosa, fazendo com o que o governo tome medidas drásticas e isole todos os pacientes. Entre os infectados, está o oftalmologista (Mark Ruffalo) que atendeu o primeiro caso da cegueira branca e que como todos acaba indo para o isolamento dentro de um sanatório que estava abandonado. Sua mulher (Julianne Moore), num ato de desespero, vai junto com o marido mesmo sem nenhum sintoma da doença. O filme também conta com a atriz Alice Braga, o que não é tão difícil de entender já que é quase uma produção nacional, como uma prostituta que também está com a doença.
E o que vemos daí em diante são exemplos simples de como o ser humano se torna um animal primitivo em condições precárias e como as relações humanas são frágeis diante da privação e do reaprendizado. Além disso, a mulher do oftalmologista (que continua enxergando tudo) mostra como estar em uma condição privilegiada exige sabedoria e inconsequência as vezes. É uma incrível dissertação sobre o caos, e droga eu estou falando de novo sobre o argumento. É que é impossível não ficar chocado com as cenas de violência, com a situação toda encarada pela única pessoa que pode ver.
Enfim, é um filme forte, com cenas bem claras sobre tudo. Gosto de filmes sem enrolação, mas acho que no contexto seriam até mais belas as cenas se fossem tratadas de formas mais subjetivas. Acho que esse foi o motivo de muitas das críticas da imprensa internacional, e eu concordo particularmente porque doeu ver cenas tão reais e tão explicitas na cara. A gente sabe que parar pra pensar é bom, mas também é importante confrontar com a realidade nua e crua. Nisso eu tenho que dar o braço a torcer. Um bom filme pra não pensar: ele já dá as respostas pra você sem ser vazio, e com certeza é um desafio pra encarar de cabeça levantada.
Que me fuzilem, mas não gosto da escrita do Saramago. Idéias geniais, escrita sofrível. Quem quiser argumentar que a escrita é genial por isso ou por aquilo fique à vontade mas para mim defender a escrita dele é coisa de intelectualóide que quer se diferenciar da "ralé" inculta. Coisa de quem tem problemas de auto-afirmação. Enfim, mas o cara tem mesmo idéias geniais. Minha Lari, sugiro você ler Ensaio sobre a Lucidez. Se passa após os eventos de Ensaio sobre a Cegueira, mas não é preciso ler o primeiro para se entreter com o segundo, principalmente você que viu o filme. Em tempos de eleições é um bom exercício de reflexão.
Um cheiro, Seu Corisco.
Oi Larissa, seu blog como sempre está ótimo! Parabéns… também não li o livro mas fui ver o filme no cinema e saí de lá incomodada, esquisita com vontade de vomitar de tão bom que é o filme. Adorei, real demais que hoje penso 2 vezes antes de alugar p/ ver de novo… em dias de bom humor não recomendo, rs…