O Caçador de Apóstolos
*Texto Publicado no Ambrosia dia 10/08/2010 – veja no link
O Caçador de Apóstolos, da Jambô Editora, é escrito pelo brasileiríssimo Leonel Caldela, e este já é o seu quarto livro. Anteriormente, o rapaz escreveu uma trilogia relacionada ao universo do RPG Tormenta, o que eu acho que deve ser bem complexo de fazer. Não li os livros anteriores e esse é meu primeiro contato com a sua obra.
Confesso que não tinha muitas esperanças ao receber um título de fantasia nacional. Afinal, a grande maioria das minhas leituras não são nacionais – e devo me envergonhar disso -, e assim como o cinema eu não acreditava que fosse ter algo bacana em mãos. Me sinto ridícula e extremamente feliz em constatar que paguei a língua.
O Caçador de Apóstolos é uma aventura sobre o fanatismo, as diferenças sociais, ideológicas e religiosas de um povo que vive oprimido pela Igreja na Idade Média. O narrador, um dramaturgo chamado Iago e personagem ativo e essencial para a história, mostra o seu ponto de vista bem teatral sobre toda aquela época, tudo o que os seus olhos viram e seus ouvidos tiveram a oportunidade de ouvir, sempre deixando claro que aquilo que ele conta é uma narração às vezes tendenciosa ou até mesmo uma mentira.
Iago retrata uma sociedade em pedaços: uma grande disparidade social. De um lado a Igreja e seus cardeais dominando toda a riqueza através do medo e da impunidade em nome de Deus. Totalmente do lado oposto, o povo em geral faminto, vivendo no meio da miséria e dominado pelo fanatismo a Urag (entidade que podemos talvez trocar com Jesus Cristo). Mas existem pessoas que fazem a diferença nessa história, e em função do mito criado pela própria Igreja iniciam uma rebelde revolução.
Aqui temos Atreu, guerreiro culto, mas com espírito selvagem e que não acredita em Deus; Jocasta, garota pobre que convive com manifestações sobrenaturais e lida com isso durante toda a sua vida; Ganimedes, guerreiro respeitado pelo povo e que adora a Deus; Benedict, imagem do perfeito representante da igreja em combate; Oberon, guerreiro troll, folgado e sedento por sangue, mas não muito inteligente; Penélope, guerreira selvagem que foi dominada pela Igreja; D’Agostini, um marinheiro rebelde e experiente, caçador de piratas; Desdêmona, garota criada pela Igreja como a Voz de Urag, representante santíssima da divindade e quase tratada como santa; e o próprio Iago, descrevendo suas trajetórias de vida que acabam sendo ligadas e manipuladas pelas mãos de cardeais.
O livro é visceral na hora de colocar as palavras e não economiza no vocabulário chocante, nem nas ações bizarras. Passagens como a falsa Voz de Urag na vila de Jocasta, que acabou promovendo uma verdadeira loucura coletiva, a vida de Atreu em um colégio de educação libertária e como isso foi tirado dele, e toda a trajetória de Iago com a sua trupe teatral descrevem bem esses aspectos. É complicado se apegar aos personagens desse livro sem sofrer com eles.
Mas devo dizer que além da narração da história ser deveras interessante, a linha do tempo completamente irregular é um atrativo a mais. É realmente como se fossemos nós descobrindo fatos e contando em uma linha de raciocínio temporal. E claro, é uma crítica pesada ao movimento religioso daquela época e com diversos momentos de fanatismo que me lembram coisas que eu mesma já vi na vida real.
Alguns elementos da história, porém, são exageradamente fantasiosos, e as explicações racionais não converncem muito. No final, fica bem claro que a linha do ceticismo está aberta e você pode interpretar da forma que quiser. Mas isso não tira a emoção do livro, e devorar as páginas foi o mínimo que eu consegui. Simplesmente uma delícia de ler, principalmente se você não se ofender muito com questionamentos a Deus.
Título: O Caçador de Apóstolos
Autor: Leonel Caldela
Formato: 15,5 x 23 cm, 416 páginas, brochura
Preço: R$ 55,00
ISBN: 978858913447-7
Veja mais sobre o livro no site da Jambô Editora
O título já é bem chamativo, no entanto tinha lido outra resenha de que o livro peca muito nos diálogos (coisas muito semelhante à pré-escolar). Eu não ia ligar para a obra se não fosse 2 detalhes da sua análise: “O livro é visceral” e “não economiza no vocabulário chocante” me despertou interesse novamente pelo livro. hehehe