Black Mirror – Perdedor (Nosedive) – S03E01
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Nem um bebê com a porra de um balão é tão feliz.
Ah, Black Mirror, eu estou sim tão feliz quanto um bêbe com uma porra de um balão. Essa, que é uma das séries mais controversas dos últimos anos, se tornou propriedade do mundo virtual – tema que aborda das mais variadas formas – ao ter sua nova temporada lançada hoje, no Netflix. A nova temporada, considerada a terceira se contarmos o que foi lançado até o momento na TV britânica, tem 6 novos episódios.
Uma das características interessantes de Black Mirror é que cada episódio é uma história completamente fechada e não tem relação direta com as outras histórias, apenas alguns Easter Eggs às vezes.
Criada por Charlie Broker, a série sempre desenha cenários que abordam o impacto na vida das pessoas de diversas tecnologias – algumas que inclusive não não existem – e da mídia, desenhando como elas afetariam radicalmente a vida das pessoas.
Perdedor (Nosedive)
O primeiro episódio da nova temporada, Perdedor, é perturbador, como sempre.
Em um mundo onde ratings e uma boa imagem pessoal são a passagem para o mundo do luxo e da perfeição, conhecemos Lacey, uma aspirante a alta classe que vive e respira por atitudes que possam garantir boas notas à sua imagem. Ao almejar algo que está totalmente fora de seu alcance, a moça, que tem uma vida mediana, começa a cometer uma série de equívocos e vê toda a sua história mudar drásticamente.
[ SPOILER ALERT! – Revelações sobre o enredo ]
O primeiro aspecto interessante é ver o mundo cor pastel do Instagram se tornar a regra fundamental para ser aceito na sociedade. Quando falo em tom pastel, eu não estou brincando: todas as pessoas aceitas socialmente usam essas cores em TUDO no seu dia a dia. É simplesmente insuportável de ver. Nos primeiros dez minutos eu já estava odiando tudo e todos. E toda essa falsidade e loucura por aceitação que, apesar de ser bem comum na vida real, é simplesmente uma regra no universo de Lacey.
Só por isso eu já estava sentindo muita raiva. Nem é algo tão distante do que a alta sociedade faz. Felizmente há um alívio nesse nojo que é o mundo da perfeição de Lesley, que é o seu irmão. Ele vive puxando a orelha da irmã. De certa forma ele está suplicando para que ela coloque os pés de volta no chão. Mas Lacey está cega e ela vai pagar o preço.
Ela é convidada para ser madrinha de casamento de uma daquelas amigas falsas da época de colégio. Tem que viajar uma longa distância para fazer um discurso em uma festa. Nisso, Lacey vê uma oportunidade de melhorar as suas notas para ter comprar um apartamento em que apenas pessoas com uma nota altíssima tem acesso.
Uma outra crítica deliciosamente sutil em Perdedor é que a muitas das pessoas negras tem notas mais baixas e estão em posições proletárias. Eles ocupam cargos de atendentes de coffe shop ou motoristas de táxi, com raras excessões como a mulher em que ela tromba saindo de sua casa e derrubando o suco em sua roupa. Esse contraste aparece em diversos momentos, especialmente no casamento de Ney Ney, a amiga falsiane. É possível ver que não há nenhuma pessoa negra e trata-se apenas da nata dos ratings.
A ansia de Lacey e sua derrocada social é uma crítica genial as pessoas que fazem de tudo para ter uma imagem fake na vida online e, eventualmente, sofrem um grande julgamento quando alguma coisa sai do controle. Não estamos tão longe disso, afinal de contas somos medidos em nossos círculos muitas vezes por isso. Mas, como na conversa em que ela tem na carona que pega com uma caminhoneira, uma das grandes conquistas da vida baseada em notas é não ter nota nenhuma.
A partir do momento que a nossa protagonista perde tudo, ela se liberta da condição de ter que agradar a todos e realiza aquele sonho que temos de falar várias verdades sem pensar nas consequências. É ruim demais estar sempre se controlando para agradar os outros…
Esse primeiro episódio não é exatamente o melhor de todos da série, mas evoca um dos meus preferidos, que é o Quinze Milhões de Méritos – com resenha por vir no site. Definitivamente não estamos distantes dessa merda toda e Black Mirror está apenas desenhando as possibilidades.
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