A polêmica da proibição do Foie Gras em São Paulo
O banimento do produto é realmente a solução ou estamos questionando as coisas erradas?
Eu nunca comi o Foie Gras. Aí você deve estar se perguntando por que eu estou escrevendo o texto sobre uma coisa que sequer sou consumidora. Pois é, eu não como o Foie Gras mas eu como carne. Gosto muito de carne de boi e de peixe, em especial. O Foie Gras na verdade é só um ensejo pra eu começar uma reflexão maior sobre o ativismo ambientalista e nosso hábito de comer carne.
Pra quem não sabe, a Prefeitura de São Paulo está em vias de proibir a produção e a comercialização da iguaria dentro da cidade, assim como as roupas de pele. O projeto foi aprovado pelos vereadores da cidade na última terça feira, dia 12, e está aguardando a sanção do projeto pelo prefeito Haddad desde então. O projeto prevê multa de R$5000 para quem descumprir as regras. Nas redes socais as páginas de direitos dos animais e de ambientalistas estão fazendo campanhas para a sanção. Você pode clicar aqui pra saber mais detalhes.
Assim que vi a notícia me lembrei das aulas de Design Sustentável que tive com a Vicka Suarez, que citou um exemplo Foie Gras extraído de uma criação de gansos livres e felizes, ao contrário do que normalmente se faz com os bichinhos na maioria dos casos, que ficam presos recebendo comida por um cano goela abaixo até o fígado quase explodir de tanta gordura. Eu achei um vídeo a respeito, até.
A Time for Foie from The Perennial Plate on Vimeo.
Dá pra ver nesse vídeo que é possível produzir o produto com dignidade, sem exploração de animais trancados em cubículos. Agora a minha pergunta é a seguinte: se a pauta ambientalista é tão contundente com a crueldade do Foie Gras, o que tem sido feito com o resto da produção em larga escala de carnes e derivados de animais pelo mundo?
Apesar de ser chocante o que fazem com os gansos, vejo menor comoção com a produção do Baby Beef, com a matéria prima dos nuggets e até mesmo como se faz a carne ser adequada para o consumo dos muçulmanos, em um método chamado Halal. Será que estamos contestando o verdadeiro problema? Será que todo mundo aceitaria numa boa parar de comer nuggets?
A questão é que nós estamos pouco nos lixando para a procedência da nossa comida. E com um pouco de informação é fácil ter vontade de ser vegetariano e ter uma horta no quintal de casa, caso contrário fica difícil querer comer qualquer coisa fora de casa ou comprada no supermercado.
É mais fácil falar que somos a favor dos gansinhos e seus fígados, que estão longe do nosso paladar de classe pobre ou média, do que realmente contestarmos os nossos próprios hábitos. E se todos nós exigirmos explicações dos fabricantes de seus processos e matéria prima? E se exigíssemos que os animais que são usados para o nosso consumo vivessem de maneira digna antes de serem abatidos? Certamente o efeito seria maior, e não uma proibição total de produção e venda como estão tentando fazer em São Paulo, que além de paliativa é ineficiente por só ser na cidade de São Paulo. Basta ir a alguma cidade vizinha comprar.
Parece que na verdade quem está com o cano na goela somos nós, que aceitamos qualquer coisa que falam pra gente sem sequer pensar um pouco antes.
Texto publicado originalmente em medium.com/@nebelin3