Batman vs Superman: A Origem da Negligência dos Filmes da DC?

Batman vs Superman é um dos filmes que marcam um momento muito peculiar da indústria dos quadrinhos e do cinema e bate recordes de bilheteria e polêmica.

[SPOILER ALERT] – Atenção! Este texto pode conter spoilers.

Os filmes iniciáticos sobre os super heróis clássicos já não atendem mais as exigências cada vez maiores dos fãs do gênero, que, com a internet, tem a oportunidade de se aprofundar com facilidade em suas origens e discuti-las até sair no tapa em redes sociais, comentários de notícias, fóruns, podcasts e mesas de bar – estas apenas pra quem ainda tem disposição para debates ao vivo.

Sabendo disso, a indústria do entretenimento não poderia deixar os debates de polaridades de fora nesse momento. Não apenas pelo o que está acontecendo Brasil, no campo político, mas no mundo todo. Vivemos uma era de tomar partidos e viver literalmente em estado de oposição a alguma coisa. Além de Batman vs Superman, temos também anunciado Guerra Civil, filme da Marvel e da Disney a ser lançado no mês que vem, e ambos discutem de maneira política o real impacto de super heróis e vigilantes na sociedade civil. Ainda não sabemos o que esperar de Guerra Civil, mas a expectativa está altíssima. Muito disso se deve ao reaparecimento do Homem Aranha e da integração dos personagens em um mesmo filme.

E é justamente sobre a expectativa de Batman vs Superman que eu gostaria de falar. Ela sempre foi considerável, mas cheia de ressalvas. Eu não vi muita comoção em torno do filme por algumas razões. A primeira é que o trabalho do diretor, Zack Snyder (Watchmen, Madrugada dos Mortos, 300, Sucker Punch) sempre fez a maioria dos fãs torcerem o nariz. Isso ficou ainda mais claro em Man of Steel, primeiro filme em que ele trabalhou com algum herói da Liga da Justiça. Além do eterno modo de videoclipe na direção, edição e tratamento das imagens, muitas pessoas questionam a profundidade da história a ser desenvolvida e a consideração que o diretor dá a elementos da personalidade dos personagens, que geralmente não são violados por se tratarem da essência imutável dos mesmos. No caso, o diretor nos apresentou um Superman mais agressivo e displicente com a vida humana do que o que estávamos acostumados.

Aliás, vou aproveitar para deixar novamente o link do podcast do Mansão Wayne em que eu e mais uma turma debatemos sobre as baixas expectativas do filme.

O segundo filme desta nova fase da DC foi lançado lançado essa semana e a polêmica simplesmente explodiu junto as reações da crítica especializada e dos fãs mais ardorosos. Poucas pessoas da crítica especializada gostaram do filme e o temor que nós, meros mortais que aguardamos as sessões abertas ao público, foi crescendo. Eu tive a oportunidade de assistir o filme na última sexta feira e mesmo assim pareceu uma eternidade desde o momento que o pessoal começou a comentar nas redes sociais. Muito simples: os amigos queriam reclamar demais do que assistiram ou então defender o filme, que não era tão ruim assim quanto estavam dizendo, mas não podiam entrar em detalhes para não metralhar spoilers. Mas vamos aos fatos.

Zack Snyder seria um visionário ou alguém preso ao próprio passado?

Batman vs Superman Zack Snyder Diretor

Antes de falar do filme em si, eu gostaria de falar sobre o Zack Snyder: eu realmente não me incomodo com o estilo visual da direção dele. As câmeras lentas, a sensação de estar eternamente em um videoclipe dark e o excesso de 3D são coisas muito características do cara e eu estou muito acostumada. Não apenas por provavelmente ter acompanhado o hype e ter assistido todos os filmes, mas eu sou da geração MTV, vivi o auge e a decadência das super produções de videoclipes musicais que os artistas faziam para lançar na emissora. Além disso sou formada em Publicidade e Propaganda, que foi o real berço e escola para o Zack Snyder, então estou completamente acostumada com esse ritmo dele. Não quer dizer que eu acho sempre genial, muito pelo contrário: me sinto pouco desafiada. A estética pode ser lindíssima, mas não tem nada de diferente. Ou simplesmente já está passando do prazo de validade.

Como vocês devem imaginar, a situação não é diferente em Batman vs Superman. Tem alguns momentos brilhantes, como a cena de abertura. Ela mostra a história de origem mais do que batida de Bruce Wayne, que vê os pais serem assassinados em um assalto. No entanto a beleza da direção é indiscutível. A referência da sequência das pérolas se estourando veio diretamente de uma das minhas partes preferidas de O Cavaleiro das Trevas do Frank Miller e sinceramente me deixou satisfeita.

Ele segue em uma toada incrível com a introdução do BatAffleck, em uma cena em que policiais dão de cara com o morcego durante uma operação. Até susto eu levei. Comentei com o meu namorado que só aquela cena já tinha me assustado mais do que A Bruxa, que vi recentemente e também fiz uma resenha aqui no site.

Tudo isso me levou a conclusão que o diretor consegue seguir muito bem em cenas mais cruas, que não precisam de muito 3D. Quando temos o Apocalipse em cena, ou cenas de grandes explosões, quedas de prédios, entre outras situações do gênero os efeitos especiais gritam na tela, deixando uma sensação excessivamente falsa pra um filme que foi vendido tanto como dark e mais realista. É simplesmente incoerente.

Mas essa é uma pequena consideração perto de todos os questionamentos que o filme traz.

Não é um filme horroroso, mas…

Batman vs Superman Ben Affleck

Entendam, não estou dizendo que Batman vs Superman é um filme horroroso. Entretanto, existe uma falta de profundidade completamente irritante no excesso de informação que é jogada na cara do espectador durante a exibição do filme. Tem detalhes que são importantes demais para serem ignorados ou subvertidos apenas para a trama caber dentro das 2h30.

Existe muita coisa incrível na narrativa que foi muito mal explorada, como o lado paranóico do Bruce Wayne, a necessidade do Superman ser mais Clark Kent e fincar as suas raízes na Terra para encontrar um sentido mais amplo em sua existência ou como a psicose dos planos maléficos de Lex Luthor foi se desenvolvendo. É muito raso para uma história extremamente complexa, onde coisas essenciais passam de maneira tão corrida na tela que é impossível absorver no momento. Não sou contra narrativas que não expliquem muito, desde que não tenha informação demais a ser passada. Definitivamente não é o caso deste filme.

Sou capaz de dizer que até um pouco antes da metade do filme, quando o foco principal era a construção do desenvolvimento de Bruce Wayne, eu estava gostando bastante. Provavelmente é uma das raras vezes que vemos o lado mais humano do personagem em ação e isso também é muito legal. Mas, a partir do momento que os outros personagens e cenas de sonhos entram em cena, o foco se perde demais, consumindo um tempo essencial em que a trama poderia ter crescido de maneira mais consistente.

O elenco que brilha no meio da escuridão

Batman vs Superman Mulher Maravilha Gal Gadot

Apesar de tudo eu gosto muito do elenco que foi escolhido e os atores mandam muito bem dentro do espaço que tinham para trabalhar. O elenco feminino, em especial a senadora e a Mulher Maravilha, dá um espetáculo a parte e atende a demanda de mulheres fortes e talentosas que o cinema precisa para inspirar a todas nós, ainda que eu acho o enfoque da Lois Lane muito grande como a “dama em perigo”, mesmo sendo uma jornalista corajosa e talentosa. A mãe do Superman, Martha, é excessivamente usada como ferramenta exclusiva para desenvolver o herói, mas eu entendo melhor pois é a mãe de criação do cara, quer dizer, semideus ou alienígena.

Acho o Batman do Ben Affleck bem promissor, Henry Cavill faz a sua parte muito bem como o Super Homem – apesar de ser mais marrento do que eu gostaria – e, dentro do que o personagem pedia, Jesse Eisenberg também cumpriu a sua meta como Lex Luthor Jr.

Nós precisamos falar do Lex Luthor Jr.

Batman vs Superman Zack Lex Luthor Jesse Eisenberg

Apesar de ter momentos brilhantes, como a maldade que acontece no senado e como a coisa se construiu junto a senadora até ali, o personagem em geral é confuso. O humor forçado é incomodo demais e, apesar de provavelmente ter sido essa a intenção, é difícil acompanhar a sua loucura e a matraca incessante que não se cala. Muitas coisas relacionadas ao seu plano surreal não são explicadas ou são colocadas apenas de maneira superficial e essa é uma das partes que me deixou mais furiosa em relação ao filme. Ao contrário de filmes que contam uma história sem sequer ter palavras, Batman vs Superman não tinha espaço para isso justamente em seu personagem mais tagarela.

Certamente Lex Junior tinha muito mais a entregar mas a soma final de seus diálogos e recortes na mesa de edição deixaram esse vácuo.

Esse problema também pode ser visto na treta entre Batman e Superman, em que suas razões ficam explicadas de maneira muito rasa. Se tem algo que me deixou louca nesse filme foi o que fizeram com a mente do Batman. Entendam: ele é um herói que é o único humano humano completo no meio de aliens e pessoas com super poderes. É um cara rico e bon vivant e pra mim o seu grande diferencial foi sempre entender a mente e a maldade humana um passo antes dela acontecer. Apesar de ser um Bruce Wayne paranóico e profundamente afetado por seus traumas que vemos nas telas, eu não consigo entender como um herói pode ser tão vulnerável a manipulação mental de um moleque psicopata, ainda mais depois de ter lidado com tipos como Coringa, Charada, Pinguim e Mulher Gato. Afinal de contas é esse Bruce Wayne escolado na bandidagem que está no filme. Não dá pra aceitar.

Gente, qual é a necessidade de todos esses cameos?

Agora vamos a incrível parte dos cameos de personagens que vão aparecer nos próximos filmes. Essa é uma questão do filme que realmente não acrescenta em nada na história. Apesar de ser demais vermos Flash, Aquaman, Mulher Maravilha e Ciborgue na tela, essas cenas seriam mil vezes melhores como cenas pós créditos pois não acrescentam em nada ao filme e apenas quebra o ritmo de uma película que já estava toda quebrada…

Um filme feito para as grandes massas retalhado pela indústria

Este é definitivamente um blockbuster que priorizou as grandes massas do que os fãs. Afinal de contas, esmagar a concorrência e faturar muito dinheiro é o que importa. É engraçado como as grandes empresas do meio ainda não perceberam que o que o público realmente precisa é de experiências de qualidade, ainda mais quando estamos lidando com monstros da cultura pop como a grande trindade de heróis da DC. Eu entendo até que a culpa não se deve apenas ao roteiro e ao diretor, mas a um calendário imposto que não respeita a estrutura que uma boa história merece ter ao ser contada.

Batman vs Superman Henry Cavill Dia de Los Muertos

Lançar este filme antes de apresentar os personagens com a decência que eles realmente mereciam é o maior erro que foi cometido. O Batman do Ben Affleck e a Mulher Maravilha de Gal Gadot mereciam um filme antes que fosse apenas deles antes de presenciarmos esse encontro de titãs. Teríamos a oportunidade de ver uma história bem contada, com mais calma e com mais empatia pelos personagens. Ou então pelo menos poderíamos ter sido completamente surpreendidos pela presença da Mulher Maravilha caso isso fosse mantido em segredo e isso é definitivamente uma coisa que eu sinto falta nos dias de hoje.

Agora o que nos resta é esperar com fé que algo mais trabalhado seja feito para a Liga da Justiça, que já está com estreia prevista para o segundo semestre de 2017 e que as críticas constantes sejam pelo menos um sinal de alerta para as equipes possam corrigir as falhas da próxima vez e não irritar tanto uma grande quantidade de pessoas mais uma vez.

Pelo menos eu espero que seja assim.


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