Mike Patton e 9 momentos fetichistas da sua carreira
Em seus vídeos, músicas e shows o cantor evoca referências ao fetichismo e bizarrices das mais diversas modalidades, criando uma identidade controversa para sua história
Neste ano vivemos um momento glorioso para os fãs dos anos 90. A música, em especial, tem vibrado com grandes lançamentos como o do Faith no More, que caso vocês não saibam é a melhor banda do universo. Para celebrar o novo CD da banda, o Sol Invictus, e os vindouros shows que acontecerão no Brasil no mês de setembro, não existe nada melhor do que um post subversivo sobre o vocalista da banda.
Mike Patton é um cara muito discreto em sua vida pessoal, a ponto de ser conhecido como um anti-galã dos anos 90 que sempre desprezou e se referiu com ironia ao estilo de vida cheio de drogas e muitas mulheres dos rockstars da sua geração, como Axl Rose (Guns’n’Roses), Kurt Cobain (Nirvana) e seu arquiinimigo Anthony Kiedis (Red Hot Chilli Peppers). Mas os fãs mais die-hard com certeza sabem que durante a extensa carreira do vocalista do Faith No More vivem acontecendo coisas de gostos muito peculiares que você não entenderia. As referências ao sexo não tradicional, escatologias, fantasias sexuais e ao BDSM surgem o tempo todo.
Portanto, não custa nada separar alguns momentos de celebração as preferências do Patton, não é mesmo? A listinha é suculenta e tem MUITA música boa, antes de qualquer coisa. Aproveitem as dicas.
1 – A viagem ácida e sádica: Mr. Bungle — Quote Unquote (Travolta)
Mr. Bungle é a primeira banda da vida da jornada do nosso herói. Os amigos de colégio se juntaram para criar uma banda extremamente experimental, com a mistura de vários estilos como o ska, o jazz, o death metal e o funk, mesmo nas demos do início da década de 80. Em 1991, após a projeção de Patton através do Faith No More, os amigos foram apadrinhados pelo genial John Zorn e lançaram o primeiro CD, que levou o nome da banda. Travolta, que teve que mudar de nome para Quote Unquote por causa de um processinho do John Travolta, foi o primeiro e único single deste disco.
O clipe é uma verdadeira jornada dentro da mente jovem do Mike Patton e de seus amigos do Mr. Bungle. A MTV americana vetou sua exibição por causa das cenas em que os integrantes banda aparecem suspensos em ganchos, consideradas inapropriadas. Este show de horrores aparece nesta fase do vocalista como uma verdadeira auto-afirmação e contestação da própria identidade, em choque com a ascendente fama. O uso de máscaras de personagens horripilantes, cenários decadentes, bonecas quebradas e a inversão de figuras religiosas com a máscara de couro de escravo sexual colide com o sucesso da banda que o tornou famoso mundialmente. Sim, o Slipknot não é a primeira banda com esse aspecto estético.
Aliás, o vídeo de Quote Unquote também está na nossa próxima história da lista, que é emblemática sobre essa fase do cantor.
2 – O rolê escatológico: Ratos de Porão – Videomacumba
Do disco fodidamente bom Just Another Crime… in The Massacreland do Ratos de Porão, Videomacumba é uma música inspirada em um episódio pitoresco do nosso homenageado junto ao João Gordo, Max Cavalera e uma editora da antiga revista Animal, durante a turnê de 1991 do Faith No More no Brasil.
Patton compilou em um VHS quase uma hora de imagens de sadomasoquismo, cropofagia, assassinatos, suicídios, animações macabras e o vídeo do single do Mr. Bungle, colocou o nome de Video Macumba e mandou pros amigos assistirem. O João Gordo ficou tão em choque – segundo ele o vômito chegou na garganta – que fez uma resenha completa na revista Bizz intitulada As taras de Mike Patton e também fez a música acima sobre o acontecimento. Inclusive tem uma camiseta sensacional do Ratos de Porão que ilustra muito bem o momento.
O vídeo escabroso revelou um lado bizarro do vocalista para o grande público, que na época o considerava mais um rostinho bonito do rock’n’roll. Entre os fãs, a fita é disputada a tapas e não é lá muito fácil encontrar para baixar na internet.
Nota da autora: eu já assisti o vídeo. É uma mixtape toscamente editada, além de ter sido ripado de um VHS já sem muita qualidade. O conteúdo é até bem tranquilo perto do que existe na internet em 2015, mas para os padrões de 1991 com certeza deve ter sido chocante.
3 – O hino onanista: Faith No More — Epic
Epic sem dúvida simboliza o grande auge da fama do Faith No More. Você com certeza já ouviu essa música em algum lugar. O fato engraçado é que o maior sucesso da banda é sobre, sim, ela mesma, a masturbação. E advinha quem escreveu a letra e confirmou em uma entrevista para a Circus Magazine nos anos 90 sobre o que era o tema? Mike Patton, é claro. O vídeo também faz muitas referências a imagens da mão e jatos de tinta para celebrar a letra, que é muito esperta e deixa o significado em aberto para os desavisados.
4 — A dominação da guerra: Faith No More — A Small Victory
Nesta época, Mike Patton já estava trabalhando fortemente a sua imagem como bom vocalista versátil e pessoa excêntrica, tentando afastar as fãs histéricas apegadas apenas a sua aparência para projetar o homem perfeito. A série de histórias escabrosas de backstage só aumentam e o trabalho novo do FNM, Angel Dust, ganha um aspecto mais experimental e esquizofrênico perto do The Real Thing.
A Small Victory, uma das músicas mais comerciais do antológico disco de 1992, tem um dos mais belos vídeos banda. O clipe, que trabalha a infalível receita de misturar violência e sexo para atiçar a imaginação do público, tem algumas cenas de sadomasoquismo, bondage, instrumentos de tortura, e máscaras de gás. O próprio Patton aparece preso no meio de uma ossada e a banda está segurando algumas armas brancas.
5 – O corpo que cai: Faith No More — Last Cup Of Sorrow
Last Cup of Sorrow é um dos últimos singles da primeira fase do Faith No More, pertencente ao derradeiro Album of the Year, de 1997. Depois deste disco, a banda encerrou as suas atividades por longos 11 anos.
Este clipe é uma maravilhosa releitura do filme Um Corpo que Cai, dirigido por Alfred Hitchcock. Além de ser muito bem feito e reproduzir com detalhes o filme, a banda se permitiu uma grande licença poética ao atribuir a James, interpretado por Patton, um viés um pouco mais fetichista. Judy Barton é substituída pela Madame X, uma dominadora implacável com roupas de látex que protagoniza no clipe um típico gameplay de submissão com o cantor.
6 – A ordem e a lei: God Hates a Coward
Um dos projetos mais acessíveis que o Patton participou depois do Faith No More é o Tomahawk. Trata-se de um supergrupo que conta com músicos de bandas celebradas como o Helmet, Melvins e o The Jesus Lizard. Durante quase toda a divulgação e turnê do primeiro disco, o “Tomahawk” de 2001, a banda usou uniformes da polícia. Tava faltando um fetiche desses com uniforme, né?
7 – A cartilha do amor: Lovage – Book of the Month
É impossível não citar o Lovage neste post. A banda de trip hop engraçadinho e irônico do Patton, que conta com o Dan Nakamura, a vocalista do Elysian Fields, e mais uma galera, fez um disco inteiro sobre experiências sexuais e referências ao cinema, muitas delas ao Hitchcock (olha ele aqui de novo). Os clipes, os shows e o próprio título do único CD do projeto tem clichês e bizarrices sexuais como tema central.
8 — A trilha perfeita: Mike Patton – A Perfect Twist
Esta música faz parte de um curta metragem de 2008 chamado A Perfect Place, que inclusive está no Youtube para assistir. Mike Patton fez toda a trilha sonora do filme. A Perfect Twist, um pop kitsch inspirado nos anos 60, tem algo que chama a atenção: a letra completamente fora do contexto do filme, fazendo referência a algum tipo de ritual sádico, algo como uma tortura consentida. Os vocais dão a impressão que é um negócio bem divertido pra quem está cantando.
9 — O acessório de palco: The Gimp
O mais recente momento fetichista do Mike Patton é junto com o reunido Faith no More para a divulgação do Sol Invictus. As fotos promocionais contam com um acessório humano bem típico do universo BDSM. Além das fotos promocionais, em alguns shows eles tem convidado algum amigo tipo o Duff McKagan e, sem revelar a identidade do mesmo para o público, colocam a máscara de látex e deixam o coitado do convidado lá no meio do palco por uma ou duas músicas. Sádicos.
Sabe de alguma história que não está nesta lista? Esqueci alguma coisa muito importante? Fala aí nos comentários!